Saúde mental no trabalho: Setembro Amarelo alerta sobre segurança psicológica
Afinal, o que a saúde mental no trabalho tem a ver com a prevenção ao suicídio? Um dos principais pontos de conexão é a segurança psicológica.
A característica mais relevante de um ambiente psicologicamente seguro é a de proporcionar liberdade para as pessoas serem elas mesmas e poderem expressar suas ideias sem se sentirem julgadas ou cerceadas.
E, esse ambiente é fundamental para as pessoas se sentirem confortáveis para pedir ajuda em um momento de sofrimento.
Neste mês de prevenção ao suicídio, fomentada na campanha Setembro Amarelo, preparamos algumas dicas para o RH promover a segurança psicológica dos colaboradores nas empresas.
Fique até o final e compartilhe os aprendizados com a sua equipe!
Em nossa cultura, o trabalho tem função estruturante e influencia diretamente na saúde mental.
E, como uma via de mão dupla, a saúde mental é determinante para termos qualidade de vida e permanecermos trabalhando em uma organização.
Conforme informações do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), 209.124 mil pessoas foram afastadas do trabalho por transtornos mentais, em 2022. Dentre os problemas estão: depressão, distúrbios emocionais e Alzheimer.
No ano de 2021, o número de afastamentos foi 4,43% menor, com 200.244 mil registros.
Por isso, é essencial discutir e buscar ações que reduzam os impactos negativos do trabalho na saúde mental das pessoas, que promovam o bem-estar nas organizações e garantam o suporte necessário para quem está em sofrimento.
Já dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização Internacional do Trabalho (OIT) demonstram que 301 milhões de pessoas conviveram com a ansiedade em todo o mundo, em 2019, e 208 milhões com depressão.
Num mapeamento global de saúde mental feito pela OMS, o Brasil foi o país com maior prevalência de ansiedade.
Sim, somos o país com a população mais ansiosa do mundo, com 9,3% dela sofrendo com esse transtorno.
Somos também o terceiro país com pior índice de saúde mental em um ranking com 64 países habilitados para a internet. Ficou atrás apenas da África do Sul e do Reino Unido.
O Relatório Anual do Estado Mental do Mundo, encomendado pela Sapien Labs, foi divulgado em março deste ano (2023) e apontou também que 33,5% dos brasileiros relataram diversos sintomas relacionados a transtornos mentais.
Em entrevista por ocasião da Campanha Nacional de Prevenção de Acidentes do Trabalho (Canpat) 2023, o auditor fiscal do Trabalho, José Almeida Júnior, destacou algumas situações que propiciam doenças relacionadas ao trabalho.
Segundo ele, atividades repetitivas e com alta cadências, a atribuição de responsabilidades e metas excessivas e o excesso de trabalho e de competitividade são exemplos.
Além disso, uma cultura organizacional inadequada e a ausência de perspectivas ou recompensas nas empresas também configuram situações de risco psicossocial que causam adoecimento mental.
O resultado são transtornos mentais e do comportamento, como ansiedade e depressão, e doenças dos sistemas: nervoso, conjuntivo e osteomuscular.
Para Almeida, esses fatores decorrem de falhas das organizações e da gestão do trabalho, e implicam em alto custo para os governos e as organizações, assim como em prejuízos sociais e familiares.
É com base neste cenário que são motivadas as discussões sobre saúde mental e a busca por medidas preventivas, como um ambiente psicologicamente seguro nas empresas.
O termo “segurança psicológica” surgiu na década de 1960 e tornou-se relevante a partir de 1990.
A popularização se deu a partir dos estudos da professora Amy Edmondson, da Harvard Business School, psicóloga e Ph. D. em comportamento organizacional.
Segundo Amy Edmondson (2021), a segurança psicológica é “um conjunto de crenças compartilhadas dentro de uma organização para que as pessoas trabalhem em um espaço seguro para se falar sobre tudo, sem restrições, tanto dos acertos, quanto dos fracassos, construindo-se assim um ambiente psicológico e emocional seguro, onde o sujeito pode ser ele mesmo sem sofrer sanções e retaliações”.
Um estudo do Google com 180 equipes buscou um padrão para a alta performance, e utilizou a teoria da professora Edmondson como fundamento, após notarem dois comportamentos predominantes nas melhores equipes:
1 – Os membros se comunicavam na mesma condição de igualdade;
2 – Os integrantes tinham soft skills, voltadas para a sensibilidade social – segurança psicológica;
A partir dessa descoberta, foi criada uma lista com cinco métricas que são as responsáveis por tornar equipes bem-sucedidas, sendo:
1 – Segurança psicológica;
2 – Confiabilidade;
3 – Estrutura/clareza;
4 – Significado;
5 – Impacto.
Porém, a mais relevante e que ganhou maior destaque foi a segurança psicológica. Esse estudo foi nomeado de Aristóteles.
Do ponto de vista dos colaboradores, a segurança psicológica tem a ver com as percepções deles sobre as consequências que pode sofrer ao assumir riscos interpessoais.
Ou seja, o quanto estão confiantes que não sofrerão repreensões, retaliações ou perseguições ao contribuírem com suas ideias para o trabalho, emitirem sua opinião ou buscarem ajuda para um problema, por exemplo.
Somente sentindo seguranças as pessoas estarão dispostas a inovar, compartilhar conhecimento e informação e fazer sugestões de melhoria.
Desta forma, o RH e a gestão devem trabalhar para promover uma cultura de segurança psicológica nas empresas.
Para Amy Edmondson (2020), as empresas precisam seguir três passos para criar um ambiente de segurança psicológica:
A liderança deve alinhar as expectativas em relação a falhas. É necessário identificar o propósito do trabalho e da organização, de forma a facilitar a compreensão da equipe.
Nesta etapa, é relevante parar para realizar uma revisão do processo após um erro e identificar o que levou à falha.
Também é promover trocas entre os colaboradores de forma a se conhecerem, como por meio da dinâmica da bula, onde cada um descreve a forma como “funcionam” enquanto pessoa e profissional. Desta forma, pode-se estabelecer parâmetros de trabalho.
Os líderes têm o desafio de aceitar diferenças, questionamentos, ter escuta ativa e fazer boas perguntas
Para isso, pode criar fóruns colaborativos e fornecer diretrizes para os processos. Assim, busca-se desenvolver a confiança.
Demonstrar humildade situacional é um passo que, muitas vezes, envolve expor a própria vulnerabilidade, compartilhando dificuldades pessoais e profissionais com a equipe.
As reuniões de 1:1 podem ser o momento ideal para dividir e abrir caminho para um diálogo mais transparente e ao feedback.
A liderança é chamada a ouvir, aceitar e agradecer. Para eliminar o estigma da falha, deve olhar sempre para frente, oferecendo ajuda, discutindo e considerando novas ideias.
Por conseguinte, espera-se que ofereça orientação em direção ao aprendizado contínuo e também sanções claras de violação.
Celebre as pequenas vitórias, encoraje e premie. Mostre como pequenos passos são importantes para grandes resultados.
Podemos resumir que o principal desafio é quebrar o paradigma da perfeição, de que as pessoas não podem errar. Esse estigma sobre o erro faz com que os profissionais não reportem falhas.
O medo de questionar e sofrer retaliação ou de ser humilhado leva à negligência e traz prejuízos, pois não ocorrem melhorias.
Por outro lado, quando o ambiente é seguro psicologicamente, há confiança. O erro ou falha é reportado e corrigido com rapidez, girando uma engrenagem de melhoria contínua.
Como já dissemos, existe uma conexão profunda entre a segurança psicológica no ambiente de trabalho e a prevenção ao suicídio.
Quando os colaboradores se sentem seguros para expressar suas emoções, preocupações e dificuldades no local de trabalho, a probabilidade de que enfrentem o estigma associado à saúde mental diminui significativamente.
Essa segurança psicológica cria um ambiente onde os funcionários se sentem à vontade para buscar apoio e compartilhar seus desafios emocionais, tornando mais fácil identificar sinais precoces de angústia mental.
O projeto Aristóteles mostrou que a segurança psicológica está intrinsecamente ligada à alta performance das equipes, porque facilita o trabalho em equipe e a integração entre os membros.
Por consequência, a segurança psicológica também reduz o isolamento social. O que é fundamental na prevenção ao suicídio, pois o isolamento e a falta de suporte social são fatores de risco significativos.
E, colaboradores que se sentem valorizados, ouvidos e apoiados por seus colegas e gestores têm menos probabilidade de enfrentar crises emocionais extremas.
Existem diversas formas de abordar o tema saúde mental no trabalho e proporcionar a conscientização de colaboradores e da liderança. Falamos sobre alguns deles no nosso artigo “Saúde mental no trabalho: o que é, como abordar e boas práticas”.
Mas também são formas de abordar a saúde mental no trabalho:
– Organizar palestras, workshops e atividades sobre saúde mental no ambiente de trabalho, aproveitando campanhas como a do Setembro Amarelo, de prevenção ao suicídio.
– Capacitar as lideranças para aprenderem a reconhecer sinais de estresse e problemas de saúde mental nos membros das equipes, além de prevenir gestões inadequadas.
O Grupo Rhopen, por exemplo, dispõe de dois projetos de suporte para colaboradores em situação de sofrimento, que são o Programa de Luto e o Programa Acolhedor.
E, neste mês de setembro, realizará palestras de conscientização sobre saúde mental e prevenção ao suicídio, por ocasião da campanha Setembro Amarelo.
Os colaboradores assistirão ao tema “Quem ouve, ajuda. Quem fala, pode se salvar!”, que vai abordar mitos e verdades sobre o suicídio, sinais e alertas, como prevenir e como ajudar alguém em angústia.
Na outra ponta, a liderança vai participar da palestra “O impacto da atuação do líder na saúde mental do time”, que tratará do preconceito e do estigma sobre o tema, reforçando a importância da saúde mental para as empresas.
Também serão abordados fatores e ações para reduzir o desgaste dos times e como os gestores devem estar atentos à sua própria saúde mental.
Nesse artigo, vimos que a segurança psicológica no trabalho não apenas melhora o bem-estar emocional dos colaboradores, mas também desempenha um papel fundamental na prevenção ao suicídio.
Ao criar e incentivar um ambiente de diálogo sobre a saúde mental, que quebra o estigma e gera apoio, as empresas desempenham um papel vital na promoção da saúde mental e na prevenção de tragédias associadas ao suicídio.
O Setembro Amarelo nos lembra da importância dessa conexão e da necessidade de priorizar o cuidado com a saúde mental no local de trabalho.