Essa tendência representa um retrocesso ou uma adaptação necessária?
Se há alguns anos alguém dissesse que o trabalho home office se tornaria a norma para milhões de pessoas, muitos duvidariam. Mas a pandemia da Covid 19 acelerou mudanças que já vinham acontecendo, tornando o home office uma realidade global.
Agora, o movimento parece estar se invertendo: diversas organizações estão chamando seus profissionais de volta ao escritório, e a pergunta que fica é: essa tendência representa um retrocesso ou uma adaptação necessária?
A resposta, como sempre, não é tão simples. O que está em jogo não é apenas o local onde se trabalha, mas a cultura organizacional, a produtividade, a saúde mental e até a sustentabilidade. Afinal, existe e se sim, qual o modelo ideal para organizações e profissionais?
Antes da pandemia da Covid 19: O trabalho presencial era o padrão, com poucas empresas adotando home office, geralmente em casos específicos.
2020 – O Boom do Remoto: A necessidade de isolamento fez do home office uma solução urgente. Organizações investiram em tecnologia e novas formas de engajamento.
2021-2022 – O híbrido ganha força: Com a reabertura dos escritórios, surge o modelo híbrido, equilibrando flexibilidade e presença física.
2023-2024 – A volta ao presencial: Algumas organizações argumentam que o trabalho remoto enfraqueceu a cultura organizacional e o desempenho, trazendo de volta a obrigatoriedade do presencial.
Agora, em 2025, estamos diante de um novo dilema: existe um formato definitivo ou cada organização precisa encontrar seu próprio caminho?
Uma reportagem do Portal G1 aponta que um número crescente de organizações está optando pelo retorno ao escritório. Entre os motivos, destacam-se:
– Fortalecimento da cultura organizacional: Muitas organizações acreditam que a presença física fortalece os laços entre equipes e facilita a troca de conhecimento.
– Colaboração e inovação: O trabalho presencial pode favorecer interações espontâneas, aumentando a criatividade e a resolução de problemas.
– Dificuldades no home office: Algumas organizações relataram queda no engajamento e desafios na gestão do desempenho remoto.
Nesse aspecto, os resultados da 4a edição da Pesquisa de Trabalho Flexível e Remoto 2022, da Mercer Brasil, revelou as impressões dos gestores sobre o sistema remoto. Dos 365 profissionais de RH entrevistados:
– 76% citam ter insegurança sobre a produtividade no sistema remoto;
– 66% mencionam excesso de reuniões.
– 51% têm dificuldade em acompanhar iniciantes.
– 61% apontam a liderança como um desafio.
– 52% consideram a cultura organizacional um impeditivo.
Por outro lado …
Para 94% dos respondentes o trabalho remoto melhorou suas vidas, segundo a nova edição da pesquisa “Trabalho em Home Office e Híbrido” 2024, realizada pelo grupo de Gestão Estratégica de RH e Relações de Trabalho da FIA Business School e FEA USP.
Um estudo de 2023 conduzido por pesquisadores da Universidade Cornell e da Microsoft descobriu que o trabalho remoto é uma opção melhor para o planeta. Em comparação com aqueles que se deslocam para o escritório, quem trabalha remotamente o tempo todo pode reduzir as suas emissões de gases com efeito de estufa em 54%.
No caso de um esquema híbrido, a redução é de 11% quando trabalham remotamente dois dias por semana e em 29% quando passam quatro dias a trabalhar a partir de casa.
O Infojobs e o Grupo RH, em 2023, realizaram uma pesquisa e os resultados mostram que 64,4% das pessoas que trabalhavam em home office e precisaram voltar ao presencial sentem que a qualidade de vida piorou.
Em relação à produtividade, o estudo revelou que 58,3% dos respondentes se sentem menos produtivo ao final de um dia de trabalho presencial, enquanto apenas 21,3% se sentem mais produtivo.
O dia nacional de mobilização pela promoção da saúde e qualidade de vida (06/04) nos lembra que o bem-estar no trabalho precisa ser uma prioridade. Um modelo de trabalho imposto, sem considerar o equilíbrio entre vida pessoal e profissional e sem inserir como protagonistas os profissionais nas discussões centrais, pode gerar desmotivação, estresse, ansiedade e até burnout.
A chave pode estar na adaptação. Organizações que investem em um ambiente de trabalho saudável — seja remoto, híbrido ou presencial — podem colher benefícios em produtividade, engajamento e permanência de profissionais.
Ainda sobre o tema, saiba mais aqui.
Ajude também o Grupo Rhopen a mapear e identificar os fatores que impactam a saúde mental das lideranças respondendo a pesquisa agora.
Pode-se observar, no quadro acima, que as mulheres ainda são minoria em funções de liderança e, até mesmo, no quadro funcional das empresas. É como se a pirâmide se invertesse à medida que aumenta a hierarquia. Elas estão em maior número na base, nos programas de porta de entrada: aprendiz, estágio e treinee. Porém, do quadro funcional em diante, a presença feminina começa a diminuir.
A verdade é que não existe um modelo único que funcione para todas as organizações e profissionais. Cada uma precisa avaliar seus objetivos, cultura e necessidades dos colaboradores. Algumas perguntas podem ajudar nesse processo:
O modelo escolhido fortalece ou prejudica o engajamento e a cultura organizacional?
Como garantir que a saúde mental dos profissionais seja preservada, independentemente do formato?
De que forma podemos equilibrar flexibilidade e produtividade?
A sustentabilidade deve ser considerada na decisão?
O futuro do trabalho está sendo escrito agora. E a sua organização, encontrou o modelo ideal?
Autoras:
Ana Patrícia Neiva, analista de P&D do Grupo Rhopen
Kátia Vasconcelos, diretora de P&D e RH do Grupo Rhopen