O modelo de aprendizagem ao longo da vida foi desenhado ainda em 1970, mas só se popularizou a partir dos anos 2000.
Desde então, vem se estabelecendo como um princípio norteador da vida profissional.
E como as organizações podem apoiar essa transformação? Uma delas é criando condições para que os adultos se percebam capazes de aprender de maneira autodirigida.
Neste artigo, vamos entender o conceito de lifelong learning, sua importância, benefícios e ver seis dicas de como aplicar esse conceito dentro da sua empresa.
Este conteúdo foi criado em parceria com a especialista em Desenvolvimento Humano Organizacional (DHO) Vanessa Bizerra.
O que é lifelong learning
O lifelong learning é um conceito que preconiza o aprendizado contínuo. Em tradução livre para o Português, o significado do termo é “aprendizado ao longo da vida”.
Na prática, o lifelong learning defende a permanência de uma pessoa na busca pelo conhecimento e aperfeiçoamento, indo além da educação formal e tradicional. Ou seja, o aprendizado não para mesmo após uma pós-graduação.
Desta forma, sempre é tempo de aprender, e quase tudo vira ferramenta de conhecimento: jogos e esportes, cursos, workshops e palestras, prática de trabalho, vivências, estudos direcionados e muitos outros.
Um lifelong learner busca o aprendizado de forma autônoma ou autodirigida. Ou seja, não precisa necessariamente de professores, mentores, facilitadores ou de uma sala de aula.
Qual o objetivo do lifelong learning
O termo lifelong learning foi usado pela primeira vez em publicações da Organização das Nações Unidas para a Educação (Unesco): Introduction to Lifelong Learning e Learning to Be.
As publicações defendiam um “ponto de vista da educação libertadora e democrática”, afirma o estudioso sobre o tema Conrado Schlochauer.
Em seu livro Lifelong Leaners, Schlochauer explica a ideia apresentada pela Unesco:
“O modelo educacional proposto trazia o desejo (e o objetivo institucional) da busca pela paz, na medida em que havia o intuito de criar, por meio da formação de adultos-cidadãos, um ambiente de compreensão global que impedisse a volta do nacionalismo dividindo as nações”.
Para isso, “todo indivíduo adulto deveria ter a possibilidade de aprender por toda a vida”.
A partir de então, outros órgãos se manifestaram favoráveis a uma sociedade com oportunidades de aprendizagem independente da fase da vida.
Uma dessas entidades, a OCDE, propôs um conceito inédito, o de alternância da educação e do trabalho ao longo da vida, unindo desejos individuais e necessidades do mercado.
Essa ideia parece familiar, não é?
Qual a importância do lifelong learning
Nossa capacidade humana é baixa para acompanhar a rapidez com que as transformações tecnológicas estão acontecendo.
Mas, cultivando uma mentalidade lifelong learning, é possível manter-se atualizado sobre as tendências e desenvolver novas hard e soft skills de acordo com a demanda do mercado.
Um profissional lifelong learner além de estar à frente de quem não busca conhecimento de forma contínua, contribui para a competitividade da organização na qual atua.
Esse profissional está sempre aberto a se reinventar e a aprender com regularidade, o que são “janelas” para a inovação.
E, por esse motivo, promover uma cultura de aprendizagem contínua é vantajoso para as empresas.
Um relatório do Fórum Econômico Mundial, publicado em outubro de 2020, aponta para a criação de 97 milhões de novos postos de trabalho e que muitos deles não serão ocupados por falta de profissionais com as qualificações necessárias.
O documento também aponta o aprendizado ao longo da vida como uma das soluções para essa lacuna.
Os 4 pilares do Lifelong Learning
O lifelong learning se desdobra em quatro outros conceitos fundamentais: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser.
Vamos entender cada um deles:
Aprender a conhecer: buscar por conhecimento profundo em temas de seu interesse e desenvolver o prazer pelo estudo e a curiosidade.
Aprender a conviver: aprender através do conhecimento, história, tradições e cultura do outro, absorvendo a experiência através da vivência.
Aprender a fazer: através da prática, tornar-se apto a enfrentar as situações de forma geral, aplicando tanto as habilidades técnicas quanto as comportamentais.
Aprender a ser: além de ter autonomia na aprendizagem, esse pilar se refere ao autoconhecimento e a iniciativa de explorar seus próprios talentos.
Lifelong learning para o desenvolvimento pessoal e profissional
Já ficou claro que o lifelong learning não é uma tendência passageira, mas um conceito que tem se consolidado ao longo de muitas décadas.
E também que, com a chegada da quarta revolução industrial e a necessidade de aprender sempre, ele se tornou mais popular.
A pergunta principal que fica é: como aplicar o lifelong learning nas empresas?
As empresas vêm investindo em planos de treinamento para upskilling e reskilling – ensino de novas competências para o futuro e reciclagem para assumir novas funções ou atender demandas emergentes, respectivamente.
Trouxemos a especialista em Desenvolvimento Humano Organizacional, Vanessa Bizerra, para dar dicas de como transformar demandas de treinamento em cultura de lifelong learning e esclarecer os principais desafios para implantá-la.
O RH desempenha um papel crucial na promoção do lifelong learning dentro das organizações.
Estimular o aprendizado contínuo dos colaboradores não apenas contribui para o desenvolvimento individual, mas também fortalece a organização para que se adapte às mudanças e inovações.
Confira Conrado Schlochauer explicando o que é Lifelong Learning no podcast da Conquer.
Valorize e promova o aprendizado contínuo. Isso pode ser incorporado nas políticas, valores e práticas da empresa, destacando a importância do desenvolvimento pessoal e profissional.
2 - Implementar programas de desenvolvimento
Implemente programas que ofereçam aprendizados e que sejam acessíveis e relevantes para a organização e colaborador.
Isso pode incluir treinamentos, workshops, seminários e cursos, tanto presenciais quanto online.
3 - Reconhecer e recompensar
Recompense e reconheça os colaboradores que se esforçam para a busca do seu aprendizado contínuo.
Isso pode incluir reconhecimento público, promoções, aumentos salariais, incentivos de participações em workshops e treinamentos custeados pela empresa, por exemplo.
O indispensável é que os incentivos demonstrem a valorização do desenvolvimento pessoal e profissional.
4 - Oferecer flexibilidade e autonomia
Ofereça flexibilidade e autonomia aos colaboradores na busca de seus aprendizados, por exemplo, cedendo o horário de trabalho para permitir que os funcionários participem de cursos ou atividades de aprendizado.
Permita também que os funcionários escolham tópicos relevantes para seus interesses e objetivos de carreira o que ele quer aprender.
5 - Investir em plataformas online
Explore e forneça acesso a plataformas de aprendizado online. Desta forma, usamos a tecnologia em favor do lifelong learning.
Isso permite que os funcionários aprendam no seu próprio ritmo, escolham entre uma variedade de tópicos e apliquem imediatamente o que aprenderam em suas funções.
6 - Incentivar o compartilhamento de conhecimentos
Incentive o compartilhamento de conhecimento entre os funcionários. Isso pode ser feito por meio de sessões regulares de compartilhamento de melhores práticas, workshops internos e outras atividades que promovam a disseminação do conhecimento dentro da organização.
O maior desafio das organizações é não ter uma Cultura de Desenvolvimento.
Dentro desse desafio vamos enfrentar algumas dificuldades que fazem parte do processo de mudança de cultura para o lifelong learning:
Resistência a Mudanças: Muitos colaboradores podem resistir à ideia de adotar uma abordagem de aprendizado contínuo, especialmente se estiverem acostumados a métodos tradicionais de treinamento.
Falta de tempo: Os colaboradores podem argumentar que têm pouco tempo disponível devido às suas responsabilidades diárias. Integrar o aprendizado contínuo sem sobrecarregar os colaboradores pode ser um desafio.
Barreiras Tecnológicas: Em ambientes onde a tecnologia não é amplamente adotada ou é mal compreendida, a introdução de plataformas de aprendizado online pode enfrentar resistência e criar barreiras para a participação.
Lideranças não engajadas: Existem lideranças que não incentivam os colaboradores ao seu autodesenvolvimento. Por consequência, não liberam os colaboradores para a participação em treinamentos, por exemplo.
Geralmente esses são líderes que não cuidam de sua própria liderança, pois não cultivam o seu autodesenvolvimento.
Orçamento: Implementar programas de lifelong learning pode exigir investimentos significativos em tecnologia, recursos educacionais e treinamento de pessoal. A alocação de orçamento para essas iniciativas pode ser um desafio.
Combinando o suporte organizacional com a motivação pessoal intrínseca podemos alcançar resultados diferenciados para nosso aprendizado.
Confira 5 dicas de como aplicar o lifelong learning no dia a dia para se tornar um lifelong learner:
Reconstrua uma nova autoimagem de aprendiz
Faça sua autorreflexão e veja o que tem limitado você no crescimento do seu aprendizado, quais ações atrapalham o seu autodesenvolvimento.
Quais são os seus autossabotadores? Se for preciso, procure um coaching ou mentoring para ajudar.
Estruture projetos para seu aprendizado
Crie um planejamento. Ao montar o seu Plano de Desenvolvimento Individual (PDI), determine nos cursos que vão direcioná-lo ao seu objetivo, onde buscar conhecimento ou quem pode ajudá-lo.
Reflita sobre seus interesses
Aqui é essencial você se autoconhecer e saber qual o seu propósito, o que te motiva, quais são seus interesses e o que você quer aprender.
Acompanhe seus progressos
Avalie como estão seus aprendizados, se tem colocado em prática, se o aprendizado está fazendo sentido para sua carreira e vida. Celebre as conquistas.
Se for necessário, reescreva seus objetivos.E, se ainda não construiu o seu PDI, ainda é tempo.
Benefícios do lifelong learning
Um dos principais benefícios do lifelong learning é que ele contribui significativamente para a formação de uma cultura de aprendizado nas organizações.
Ele influencia a maneira como os colaboradores percebem o desenvolvimento contínuo e a aquisição de conhecimento.
Como disse Aristóteles:
“A alegria que se tem em pensar e aprender faz-nos pensar e aprender ainda mais”.
A busca pela educação contínua deve acontecer de maneira voluntária e proativa.
O mercado está altamente competitivo e exigindo dos profissionais mais qualificações e novas habilidades.
Conclusão
Em um mundo repleto de mudanças, estar em constante aprendizado se tornou essencial, enquanto as empresas devem se tornar promotoras e facilitadoras da aprendizagem.
Como diz Schlochauer:
“O poder do aprendizado contínuo mostra que todos nós somos lifelong learners independente de sabermos o não.”
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